Detenções de opositores aumentam 53% este ano em Cuba !


Imagem: Divulgação
Berta Soler, líder do movimento Damas de Branco, afirma que a repressão em Cuba voltou a piorar. Um argumento forte é o informe que o Observatório Cubano de Direitos Humanos acaba de divulgar: em 2014 houve, até agora, 8.525 detenções arbitrárias. A cifra, que por si só é alarmante, chama atenção por ser 53% maior do que a do mesmo período do ano passado (entre janeiro e novembro) e porque 67% das prisões tiveram como alvo mulheres críticas ao governo de Raúl Castro. A Anistia Internacional adverte que a censura deverá se intensificar na semana que vem com o Dia dos Direitos Humanos.“Estas detenções vão contra os direitos de associação e manifestação. Elas acontecem, geralmente, na entrada ou saída da igreja ou no caminho de reuniões na casa de críticos do regime”, conta Alejandro González Raga, diretor do Observatório Cubano de Direitos Humanos.González Raga, um dos presos políticos do chamado Grupo dos 75 — detidos na Primavera Negra cubana, em 2003 — que veio a Madri em 2008, como asilado político, após uma negociação entre Cuba e Espanha, ressalta o ativismo político feminino contra o regime dos irmãos Castro. Para ele, isso poderia explicar o alto número de detenções arbitrárias de mulheres.De fato, Berta Soler, que estima que o número de integrantes do Damas de Branco, hoje superior a 300, tenha dobrado no último ano, afirma sentir o aumento destas detenções e presenciá-las a cada domingo. Ela calcula que a cada fim de semana entre 35 e 50 Damas são levadas, na maioria das vezes na porta das igrejas.“Mas nem sempre somos presas. Às vezes somos levadas a lugares ermos. Ficam com nossa bolsa e nosso dinheiro, para que a volta a casa seja o mais difícil e demorada possível”, relata.As detenções arbitrárias costumam durar, conta a ativista, de quatro a 24 horas, mas algumas, dias ou semanas. Porém, de maneira geral, não superam o mês de reclusão. Berta Soler, presa três vezes em junho, conta que poucas vezes as pessoas detidas são levadas em veículos da polícia. Na maioria das vezes são usados carros particulares e até ônibus e ambulâncias.“Nada mudou. Vivemos num regime totalitário. A repressão voltou a piorar e o governo está infiltrando pessoas violentas em nossas reuniões para que haja a sensação de que somos nós, da sociedade civil, que estamos nos matando uns aos outros”, denuncia Berta.Na terça-feira (25), duas companheiras de ativismo, María Arango Percival e Isabel Fernández Llanes, foram esfaqueadas numa reunião da Frente Antitotalitária Unida, ao tentarem proteger Guillermo Fariñas, coordenador geral do grupo. A ONG Anistia Internacional, proibida em Cuba desde 1988, adverte que, seguindo-se o padrão dos anos anteriores, espera-se uma forte onda repressiva no próximo dia 10, Dia dos Direitos Humanos.“Estas detenções arbitrárias de curta duração são usadas como tática para reprimir a dissidência. Certamente haverá detenções para tentar impedir celebrações, seja em igrejas, seja em casas de cidadãos cubanos, onde costuma haver reuniões para leitura da Declaração dos Direitos Humanos”, explica Olatz Cacho, porta-voz de Anistia Internacional-Espanha.Enquanto cresce a repressão, e num contexto de lenta abertura econômica promovida por Raúl Castro, presidente desde 2008, a União Europeia vem tentando, nos últimos dois anos, uma aproximação. Está marcada para janeiro a terceira rodada de negociações para um acordo de cooperação e diálogo político, que pode significar o levantamento da Posição Comum — um instrumento diplomático imposto em 1996 condicionando as conversas ao respeito aos direitos humanos e ao avanço da democracia.Carlos Malamud, pesquisador do Real Instituto Elcano, afirma que a aproximação é fruto do convencimento da Comissão Europeia da necessidade de manter boas relações com Cuba para quando começar a transição democrática.“A Espanha se deu conta de que a Posição Comum conduzia as diplomacias espanhola e europeia a um beco sem saída, no qual perdia contato com o governo cubano e seus representantes, permanecendo isoladas do que era a realidade oficial cubana”, afirma Malamud.


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